segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As Bienais e suas temáticas

A Bienal de Arte de São Paulo em seu início não tinha uma forma de organização e seleção das obras baseada em temática como temos hoje.

Isso começou a se desenvolver melhor em 1977, após a morte do fundador da exposição Francisco Matarazzo Sobrinho.

A partir da 14º edição (1977) a mostra passou a ter uma linha mais organizacional, baseado em temas amplos e diversos. Mas ainda assim, as obras apresentadas tinham conceitos muito amplos, o que resultava numa falta de hormonia constante.

Somente na década de 80, a Bienal passou a ter apenas um tema, mais especificamente na 19º edição (1987). Chamada de Utopia versus Realidade, a curadora Sheila Leirner optou por este tema, com o objetivo de apresentar a diversidade da arte contemporânea, ressaltando a utopia dentro da nossa realidade.

As duas próximas mostras, a 20º e a 21º Bienal (1989 e 1991, respectivamente) não tiveram uma temática geral.

A 22º Bienal (1994) teve como curador Nelson Aguilar, que nomeou a temática como Ruptura de Suportes. Com esta proposta, a mostra procurou "quebrar" os conceitos tradiocionalistas da arte, como a contemplação da arte, passando a ter propostas mais inovadoras, como a interação do público e a obra de arte. Os suporte tradicionais ganhavam uma reflexão questionadora sobre sua função e objetividade no circuito cultural.

A 23º edição da Bienal (1996) ainda com a curadoria de Nelson Aguilar, apresentou o tema Desmaterialização da Arte no Final do Milênio. Este conceito foi inspirado no livro Six Years: The Dematerialization of Art Object (1966 – 1972) da crítica Lucy Lippard. A desmaterialização “é um movimento que leva a arte a se afastar das referências naturalistas e desemboca nas correntes contemporâneas” (ALAMBERT;CANHÊTE, 2004:197), ou seja, faz com que a arte saia do tradicional e se expanda para outros meios e linguagens. Segundo o curador, "A questão da desmaterialização aponta para a própria essência da arte e a depuração de sua linguagem. Quisemos fazer um balanço deste percurso histórico e ao mesmo tempo lançar um olhar para o futuro".

A edição seguinte (24º Bienal) foi realizada em 1998 com a curadoria de Paulo Herkenhoff. Com a temática Antropofagia, sua inspiração foi o conceito criado por Oswald de Andrade em seu “Manifesto Antropofágico” em 1928, que está relacionado com a digestão de algo útil, onde as impurezas são descartadas, surgindo uma nova formação, com mais personalidade e conhecimento. Desta forma, o objetivo de Herkenhoff é que a cultura brasileira fosse salientada de maneira livre e justa, propondo debates sobre a “problematização da antropofagia e do canibalismo estético”.

A 25º Bienal (2002) teve como curador o primeiro estrangeiro, Alfons Hug. Com o tema Iconografias Metropolitanas, Hug optou por 11 metrópoles que escolheriam 5 trabalhos de cada cidade. Estas são: Berlim, Caracas, Istambul, Johannesburgo, Londres, Moscou, Nova Iorque, Pequim, São Paulo, Sydney e Tóquio. Além disso, foi criada a cidade “Utópica” que seria a 12º, composta por trabalhos dos 12 lugares do mundo. Apesar das crises, esta edição obteve muito sucesso, principalmente em relação ao número do público, que foi o maior dentre todas as edições, com 668.428 visitantes o que também impulsionou a debates sobre a relação dinheiro (custo da entrada da Bienal) e arte (a exposição em si).

A 26º edição ocorreu em 2004 com a curadoria de Alfons Hug. O tema escolhido foi Território Livre, já que Hug desejava ressaltar a liberdade que a arte propõe, tornando reduzida questões sobre política e ciência, sendo a arte autônoma e utópica.

Em 2006 foi realizada a 27º Bienal de São Paulo com curadoria de Lisette Lagnado, cujo tema foi Como viver junto. Propunha uma reflexão sobre espaços que podem ser compartilhados por todos, em que a cooperação seria a característica comum entre todos. Este título foi baseado nos seminários de Roland Barthes no Collège de France (1976 – 1977). Segundo a curadora: "No começo, todo mundo gostou muito do título, pois acho que as pessoas precisam de uma utopia. Mas à medida que eu ia escolhendo as obras e conversando com os artistas, encontrei muitos que não acreditam no como-viver-junto".

Em 2008 nasceu a 28º edição da Bienal, com a curadoria da dupla Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen. O tema Em vivo contato tem o objetivo de que as pessoas dividam não apenas o espaço, mas também seus limites e conhecimento. No campo artístico, um contato mais próximo da arte brasileira com a arte do restante do mundo. Na verdade o tema surgiu de um texto do catalógo da 1º edição da Bienal (1951), em que "o crítico (de arte) estabelecia os objetivos da exposição que ajudou a conceber: promover o convívio, ou seja, ‘o vivo contato’, da arte brasileira com a internacional e conquistar espaço para São Paulo na cena artística mundial".

É desta forma que a Bienal se organizou nas últimas edições, por meio de temáticas que levam a uma reflexão não apenas sobre a arte, mas sobre as questões da sociedade.


Referências Bibliográficas:

ALAMBERT, Francisco: CANHÊTE, Polyana. As Bienais de São Paulo, da era do
Museu … era dos curadores (1951 – 2001). São Paulo: Boitempo, 2004.

COMODO, Roberto. Euforia visual. São Paulo, 1996. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/istoe/cultura/141011.htm>. Acesso em 19 ago. 2009.

MACHADO, Lourival Gomes. Lourival Gomes Machado – Notícia. São Paulo, 2008.
Disponível em:
<http://www.28bienalsaopaulo.org.br/artigo/lourival-gomes-machado>
Acesso em 22 set. 2009.

UOL: DIVERSÃO E ARTE. 24º Bienal Internacional de São Paulo. Disponível em:
<http://entretenimento.uol.com.br/arte/bienal/1998/>. Acesso em 19 ago. 2009.

UOL: DIVERSÃO E ARTE. 27º Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo, 2006. Disponível
em: <
http://entretenimento.uol.com.br/27bienal/ultnot/2006/12/17/ult3898u117.jhtm>. Acesso em 20 ago. 2009.

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