segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Do design moderno para o pós-moderno

Foi entre os séculos XVIII e XIX que surgiram os primeiros vestígios da Revolução Industrial na Europa. Com um sistema de produção em escala a um custo relativamente baixo, a Revolução Industrial tinha como característica a mecanização do trabalho, resultante de várias inovações tecnológicas desenvolvidas com o objetivo de produzir mais em um curto espaço de tempo, propiciando menos mão de obra e conseqüentemente menor gasto e maior lucro.

A partir de então, foi-se desenvolvendo as cidades e um aumento do consumo entre as diferentes classes, inclusive nas baixas e médias. A alfabetização e a busca por lazer também ascenderam, o que resultou na construção de teatros, parques e museus. Por meio de todas essas transformações, foi-se necessário encontrar estratégias de comunicação, que informasse toda a população de maneira eficiente, através de jornais, revistas ilustradas, embalagem, catálogo e do próprio cartaz (DENIS, 2000).

Ao fim do século XIX e início do século XX, muitos críticos e pensadores se dedicavam a buscar um estilo para a modernidade industrial. Alguns eram favoráveis a um retorno de estilos do passado, como o Renascimento e o Gótico, outros optavam pela junção de todos os estilos, enquanto outros, defendiam uma ruptura com esses estilos e a criação de um novo estilo; um que refletisse todo o progresso tecnológico da época.

Apesar de todas as contradições, surgiu entre 1890 e 1910, o primeiro estilo moderno, a Art Nouveau (arte nova), caracterizado por formas florais, assimétricas e cores fortes. Como sucessor deste estilo, surge nos anos 1920 e 1930, a Art Decó, “caracterizado como menos ornamentado e mais construtivo, menos floral e mais geométrico, menos orgânico e mais mecânico, menos um entrelaçamento de linhas e mais uma sobreposição de planos” (DENIS, 2000:88).


Apesar destes dois estilos iniciais do modernismo, Art Nouveau e Art Decó estarem consolidados, ainda existia uma tensão entre as duas formas: as formas orgânicas que tinham como objetivo humanizar as máquinas e a geometrização das formas que buscavam adaptar a sociedade à mecanização.

Durante a evolução do modernismo, surgiram outros movimentos como o futurismo, o dadaísmo, o surrealismo, o simbolismo, o expressionismo, o cubismo, o construtivismo e o neo-plasticismo, em que a maioria enaltecia valores mecânicos, como a velocidade, a matemática, a linearidade e a racionalidade.

A Bauhaus é um dos principais exemplos quando se fala em design moderno no século XX. Não foi apenas uma escola alemã criada por Walter Gropius em 1919, mas a Bauhaus foi um movimento abrangente, influenciador de pensamentos e produtor de uma cultura que pregava a universalidade, a rigidez no design através do grid, além da funcionalidade, ordem e racionalismo (CAUDURO, 2000).


Cartaz estilo Bauhaus – Rudolf Baschant 1923
Fonte: http://aulas.pro.br/blog4/?p=491


Mesmo com a Guerra Mundial, o Modernismo predominou e após a Guerra, a Escola Suíça que viria a “seguir” a Bauhaus continuou com este mesmo ideal claro e rígido, caracterizado pela superioridade universal. Foi por volta dos anos 1950 que foi desenvolvido com base na Escola Suíça e conseqüentemente na Bauhaus, o Estilo Internacional, mas que só veio a ser conhecido nas décadas 1960 e 1970. Com uma vertente funcionalista, propunha the form follows function (“a forma segue a função”), ou seja, os ornamentos estavam proibidos de serem usados. Passou a ser usado em praticamente todas as identidades visuais corporativas, tornando-se com o passar do tempo, um padrão hegemônico sem grandes novidades, como uma espécie de fórmula mecanicista usada por todos os designers da época (CAUDURO, 2000). Seu uso era muito cômodo e seguro, pois a comunicação visual das empresas ainda mantinha um padrão bastante positivo em relação aos clientes. Ainda assim, alguns designers ficavam incomodados com tanta uniformização e padronização.

Foi em meados da década de 1960 que isso começou a mudar. Novas propostas, mais descontraídas e questionadoras, surgiam, juntamente com os movimentos hippie e na década de 1970 com o movimento punk.

Por volta dos anos 1970 surgiu o New WaveTypography (CAUDURO, 2000), um movimento do design pós-moderno que atingiu principalmente a Holanda e os Estados Unidos, tendo como pioneiros os designers Wolfgang Weingart, Siegfried Odermatt, Rosemarie Tissi, entre outros. A New Wave propunha novas alternativas ao design, como composição menos formal, por meio da ornamentação, improvisação e humor. Apresentava ainda alguns elementos da Escola Suíça, assim como a fotografia, o cinema e a publicidade, e alguns traços de trabalhos dos anos 1920, o que gerava composições desconstruídas, imagens híbridas com mensagens codificadas e muita colagem, além da experimentação tipográfica. Novos elementos eram usados como a descentralização na organização da página, de maneira diagonal (no Estilo Internacional era horizontal) além da falta de legibilidade, procurando o uso menos convencional da tipografia (CAUDURO, 2000). Uns dos principais representantes da New Wave são a norte americana April Greiman (ex-aluna da Escola de Design de Basel) e o holandês Jan van Toorn.


Folder estilo New Wave – April Greiman
Fonte: http://aulas.pro.br/blog4/?p=491

No design não houve uma mudança abrupta da noite para o dia entre o moderno e esse novo movimento descontraído. As linhas funcionalistas ainda existiam, mas foi se criando uma liberdade maior para a experimentação gráfica, resultando em criações híbridas, numa nova era mais livre e despreocupada, que viria a ser chamado de pós-moderno.

Alguns estudiosos, acreditam que o pós-moderno é uma emancipação do moderno, enquanto outros, acreditam que o pós-moderno é uma ruptura do moderno. Os dois estilos foram convivendo pacificamente, mas a partir do final dos anos 1980, o design pós-moderno se sobressai com mais estabilidade, isso também porque os computadores começam a surgir como uma grande novidade.

Em 1976, a Apple lançou o primeiro computador pessoal no mercado e em 1984 foi lançado o Macintosh, uma ferramenta muito favorável para os designers da época, que tinham a possibilidade de inovar suas linguagens gráficas. Com o PostSript (tipografia) e o PageMarker (processo de editoração), os experimentos na área gráfica se mostraram incessantes. Porém, pelo fato dos softwares se apresentarem com muitas limitações, acabaram por produzir alguns ruídos e defeitos que foram incorporados na linguagem gráfica da pós-modernidade.


Apple Macintosh, 1984
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Macintosh

Foi com estes passos completamente experimentais, que o design pós-moderno deslanchou, com muito humor e reutilizando elementos de décadas passadas, além de ser um movimento que intertextualiza conhecimentos diversos e de outros meios.

Essa é a estética atual do design e não sabemos até quando irá permanecer. O fato é que o pós-moderno surgiu de uma mudança que toda a sociedade buscava, do fim do comodismo e do racionalismo. A experimentação, a desconstrução, a leitura alinear e a pluralidade não fazem parte apenas do design, mas se espalhou por outras mídias como o vídeo e a fotografia. É uma estética que se constrói a cada dia e que acompanha as revoluções tecnológicas, enriquecendo a percepção visual e o imaginário particular de cada um, mas que faz provocar mudanças em um todo.


Referências Bibliográficas:

CAUDURO, Flávio Vinícius. Design gráfico e pós-modernidade. Revista Famecos, Porto Alegre, dezembro de 2000, nº 13.

DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.